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06/07/2021

Longe da capital, Zanir apostou tudo pelas bolsas de luxo em Rio Negro

Por Raul Delvizio -  Campo Grande News

A empresária sul-mato-grossense Zanir Furtado, de 44 anos, tinha todos os "sinais verdes" para instalar seu mais novo negócio no estado de São Paulo ou até no Nordeste brasileiro, considerados polos da indústria da moda no país. Porém, resolveu deixar de "herança" à Rio Negro de MS – sua cidade natal – o investimento de uma fábrica de bolsas de luxo que ela mesma desenha.

"O propósito nasceu com o intuito de gerir um negócio com sustentabilidade social à Rio Negro. As pessoas sempre pensaram que eu fosse maluca, com ideias anti-convencionais, mas na verdade sempre olhei pro futuro de forma otimista, querendo fazer o bem. A marca veio para mostrar ao meu povo, à minha cidade, que também merece mais. Que todos ali têm o potencial de criar, construir, crescer como aconteceu comigo. É acreditar no possível", julga a estilista.

Zanir não nasceu em berço de ouro. Aos 12 anos ficou órfã do pai, com sua mãe viúva tendo que "segurar as pontas" com os quatro filhos debaixo do braço. Cuidar dos irmãos era uma necessidade até que, aos 16, ela mesma se tornou mãe. Sem qualquer expectativa de um futuro, teve que lutar muito contra a maré de permanecer em uma vida clichê, sem esperanças de algo melhor.

"Eu não tive sorte. Eu construí a minha própria sorte. Me cerquei de estudo, pessoas e conhecimentos que mudariam a minha vida para sempre. Consegui mudar a minha e agora tenho a oportunidade de dar uma mão ao meu vizinho", considera Zanir.

Nem a pandemia de covid-19 foi capaz de estragar a ideia, que utiliza o couro premium 100% regional na confecção das bolsas de luxo (a mais barata sai por R$ 900). Antes, essa mesma matéria-prima só era exportada para países europeus – o "crème de la crème" dos couros – que caiu no gosto das marcas de alto nível. Conforme a empresária, agora não é mais preciso recorrer a uma Gucci, Prada ou até mesmo Chanel porque existe uma grife local feita com o mesmo material.

"Para se ter uma ideia, estamos produzindo uma bolsa por dia. É um investimento altíssimo, não é todo mundo que apostaria nisso. Tudo é feito de forma manual com carinho e amor por gente que até então nunca teve a carteira assinada. São pessoas que não possuem toda uma experiência artesanal no ramo, mas eu também não tenho! Fiz questão de empregá-las e dar capacitação assim como eu mesmo me capacitei. Só assim a gente cresce na vida", garante.

Um ano antes, Zanir passou 2019 inteiro caindo de cabeça nos planos de fundar a marca. Estudou negócio, visitou curtumes, se inspirou na moda e paralelamente fez até curso na Escola de Belas Artes em São Paulo, onde se formou designer de bolsas: é ela a estilista responsável por desenhar os modelos e pensar nas estampas.

Com inspiração nas belezas e cores do Pantanal, os artigos refletem a identidade regional. Em média, cada bolsa chega a custar R$ 2 mil. Na primeira linha da marca, tudo é super exclusivo porque são peças únicas – não tem cópia. No total, foram lançadas 10 estampas.

"Tivemos quem comprou a bolsa sem ainda nem levar pra casa porque o produto estava em fase de acabamento e finalização. E já temos pedidos para fazer mais!", diz satisfeita.

"O produto é caro porque o couro do gado pantaneiro é um material premium, um dos melhores do mundo. Não trago um investimento de uma vida inteira para simplesmente não dar certo. Vai dar certo – aliás, já deu. Tive conversas com municípios vizinhos que me ofereceram expansão, o que significa que a visão que tive tem muito potencial. É um trabalho de formiguinha, que necessita muita dedicação, mas ao mesmo tempo transformador e ousado. Não poderia estar mais feliz", reflete.

Além das bolsas, os planos são de aumentar gradativamente a linha de produtos com uma série de novas assinaturas em joias, roupas e até calçados – não só feito em couro bovino, mas até de avestruz, jacaré e peixe.

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